quinta-feira, 4 de julho de 2013

Questões emergentes: estranhando anônimos e autoritários

[Comentário meu] A princípio, minha ideia era publicar apenas o texto "O joio, o trigo e a razão" (Jornal do Brasil), do jornalista Mauro Santayana, nessa série de questionamentos. O texto em questão vai na mesma linha de Wanderley Guilherme dos Santos e, de certa forma, de Hermano Vianna, ou seja: interroga a estratégia das manifestações que partiu das redes sociais contando, inclusive, com mensagens internacionais, misturando-se às demandas objetivas e legítimas que se colocaram nas manifestações, formando uma verdadeira panacéia propícia às ações antidemocráticas. Resolvi juntar no mesmo post o texto "Caixa de Pandora", publicado no próprio blog do jornalista, no qual ele apresenta seu estranhamento em relação às vertentes antidemocráticas que pretenderam conduzir as manifestações. Ambos os textos foram escritos no calor dos acontecimentos e, por isso, não trazem atualizações importantes, mas continuam interessando pelo fato de trazerem a observação política de um jornalista atento à História, preocupado com a democracia e crítico das posições autoritárias.


      As manifestações que tomaram as ruas de todo o país nas últimas semanas começaram de forma legítima e democrática, convocadas por uma organização conhecida, que existe há muito tempo, e que há muitos anos defende a mesma bandeira, acompanhada de outras organizações, muitas delas situadas à esquerda do espectro político.

     O caráter apartidário do Movimento Passe Livre, o êxito da mobilização, a pauta relativamente aberta de reivindicações, foram logo vistos pela extrema direita como  oportunidade  para infiltrar, diretamente e pela internet, suas ideias no movimento, como o “Acorda Brasil”,  adaptação direta do  Deutschland  Erwacht! do nazismo, atribuído a Goebbels.

     Passou-se a incitar o ódio aos  políticos, o desprezo pelas instituições, com a intenção de  desacreditar a imagem do país no exterior, e de atingir a governabilidade e a economia.

     Em um primeiro momento, alguns setores da oposição democrática,  inseridos no sistema político normal,  podem ter sido atraídos  pelo movimento que exibia cartazes pedindo o impeachment da Presidente Dilma,  sem ver outros,  mais numerosos, pedindo indiscriminadamente a cabeça dos políticos e tachando-os, todos, de ladrões e corruptos.

      Outros membros da oposição também  se sentiram certamente acuados,  ao se verem cercados no Congresso, ou em cidades e estados governados por seus partidos, por milhares de pessoas e por grupos armados de paus, pedras e fogo.

     O que estamos vendo, resguardados os manifestantes comuns, é o vir à luz de um frankenstein político que, em nome da liberdade de manifestação, ataca, com bandidos   mascarados, instituições nacionais e militantes do PT, do PSTU, e do  PSDB,  quando estes ousam sair às ruas.

      A tentação de dançar com o diabo, mesmo que por parte de uma minoria, é perigosa e enganadora. Muitos daqueles que apostaram no caos em 1964, pensando que ascenderiam ao poder - como Carlos Lacerda -  terminaram cassados e humilhados pela Ditadura.

      Apesar do recuo das autoridades na questão do preço das passagens, continuam as manifestações, agora com a intenção deliberada de paralisar as capitais, como mostram as manobras sincronizadas de interrupção do tráfego em diferentes pontos, como aconteceu em São Paulo no início da semana.

     Essa vertente fascista vem estendendo paulatinamente o seu controle, indireta e insidiosamente, sobre centenas de pessoas inocentes e bem intencionadas, e não se descarta a possibilidade de que estejam sendo pagos os vândalos que promovem quebra-quebraS e desatam sua fúria diante das câmeras da imprensa internacional.

    É contra esses inimigos ocultos da  democracia que as instituições, os homens públicos e os cidadãos, quaisquer sejam seus partidos, têm que se unir –  e agora.


      A situação criada com as numerosas manifestações, no Brasil, nas últimas semanas, não se resolverá com a reunião realizada ontem em Brasília, da Presidente Dilma Rousseff, com governadores e prefeitos de todo o país - embora o encontro seja um importante passo para atender às reivindicações dos que foram às ruas.
       Seria fácil enfrentar a questão, se as pessoas que vêm bloqueando avenidas e rodovias - levantando cartazes com todo o tipo de queixas - fossem apenas multidão bem intencionada de brasileiros, lutando por um país melhor.
      A Polícia Civil de Minas Gerais já descobriu que bandidos mascarados, provavelmente pagos, recrutados em outros estados, têm percorrido o país no rastro dos jogos da Copa das Confederações, provocando as forças de segurança, a fim de estabelecer o caos.
     Mensagens oriundas de outros países, em inglês,  já foram identificadas na internet, como parte da estratégia que deu origem às manifestações.  
     É preciso separar o joio do trigo.
Além do Movimento Passe Livre, com sua postulação clara e legítima, há cidadãos que ocupam as ruas, com suas famílias, para manifestar  repúdio à PEC-37, que limita o poder do Ministério Público, ou para exigir melhoria na saúde e na educação.
      E há outros que pedem a cabeça dos “políticos”, como se eles não tivessem sido legitimamente eleitos pelo voto dos brasileiros. Esses pregam a queda das instituições,  atacam a polícia e depredam prédios públicos, provavelmente com o intuito de gerar material para os correspondentes e agências internacionais, e ajudar a desconstruir a imagem do país no exterior.
      O aumento brusco do dólar, a queda nos investimentos  internacionais, a diminuição do fluxo de turistas em eventos que estamos sediando, como a visita do Papa, a Copa e as Olimpíadas, não prejudicará só o Governo Federal, mas também as oposições, que governam alguns dos maiores estados e cidades do país, e  dependem da economia para bem concluir os seus mandatos.
     Os radicais antidemocráticos  se infiltram, às centenas, no meio das manifestações e nas redes sociais, para pregar o ódio irrestrito à atividade política, aos partidos e aos homens públicos, e a queda das instituições republicanas. Eles não fazem distinção, posto que movidos pela estupidez, pelo ódio e pela ignorância,  entre situação e oposição, entre esse ou aquele líder ou partido.
       Eles apostam no caos que desejam. Querem ver o circo pegar fogo para, depois, se refestelarem com as cinzas. Não têm a menor preocupação com o futuro da Nação ou com o destino das pessoas a que incitam à violência agora. Agem como os grupos de assalto nazistas, ou os fascistas italianos, que atacavam a polícia e os partidos democráticos nas manifestações, para depois impor a ordem dos massacres, da tortura, dos campos de extermínio, dos assassinatos políticos, como o de Matteotti.
         Acreditar que o que está ocorrendo hoje pode beneficiar a um ou ao outro lado do espectro político é ingenuidade. No meio do caminho, como mostra a História,  pode surgir um aventureiro qualquer. Conhecemos  outros “salvadores da pátria”  que atacavam os “políticos”, e trouxeram a corrupção, o sangue, o luto, a miséria e o retrocesso ao mundo.
      O encontro de ontem entre a Chefe de Estado, membros de seu governo e os governadores dos Estados é o primeiro passo em busca de um pacto de união nacional em defesa do regime democrático, republicano e federativo. A presidente propôs consultar a população e a convocação de nova assembléia constituinte a fim de discutir, a fundo, a reforma política, que poderá, conforme as circunstâncias, alterar as estruturas do Estado, sem prejudicar a sua natureza democrática.
      É, assim, um entendimento que extrapola a mera questão administrativa - de resposta às reivindicações dos cidadãos honestos que marcham pelas ruas - para atingir o cerne da questão, que é política.  Há outras formas de ação da cidadania a fim de manifestar suas idéias e obter as mudanças. A proposta popular de  emenda constitucional, como no caso da Ficha Limpa. Cem mil pessoas que participam de uma manifestação, podem levantar 500 mil assinaturas em uma semana, a fim de levar ao Congresso uma proposta legislativa.
  Não é preciso brincar com fogo para melhorar o país.

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