Se o que Rui Falcão demonstrou na entrevista de segunda-feira diante da bancada de entrevistadores do Roda-Viva for representativo da disposição política do seu partido, então parece haver um erro de percepção: é como se o cenário do debate político fosse um ringue de MMA enquanto o PT ainda acredita estar no cenário da Ana Maria Braga preparando omeletes matinais.
Antes de uma resposta ser dada, os jornalistas já estavam rindo dele. Até o cachorro Juquinha, do governador Sérgio Cabral, virou protagonista. Uma jornalista obstinadamente perguntava como a Reforma Política iria resolver o problema do Juquinha. E arrancava gargalhadas da platéia. E o Rui Falcão mexendo o omelete. Não duvido que até o dono do Juquinha tenha rido dos petistas. Os jornalistas (caninamente solidários a seus patrões) fizeram do PT uma piada nacional. Muitos pmdbistas fazem do PT uma piada nacional. E o PT ainda acredita que é a força hegemônica da coalizão governista, com essa postura? Ou ainda não percebeu que o argumento da "força política hegemônica do país" só serve de munição para que todos os problemas do país lhe sejam tributados? Até o voo do Juquinha.
PS: há exato um mês o tucano José Serra foi recebido pela mesma bancada com tratamento digno de grande intelectual, de grande teórico das mobilizações populares. Justo ele, que legou à história recente da Universidade de São Paulo uma lista de episódios de mobilizações ignoradas, não atendidas e reprimidas pela Polícia Militar.
Atualizado em 17/07/2013, a partir de diálogo com o blogueiro Ronaldo Souza:
As colocações da bancada eram para desestabilizar, mas nem consistência de argumentos buscaram para este objetivo. O que procuraram fazer foi igualar Juquinhas e Petistas (diga-se de passagem, praticamente deixando isentos os donos dos Juquinhas com suas próprias responsabilidades).
E de outro lado, sempre é bom lembrar a adulação subserviente que eles dispensam aos tucanos que aparelham a TV Cultura: FHC é tratado como Intelectual-Estadista-Grande-Escritor. O maior absurdo da entrevista de FHC, repetido há mais de uma década, é o episódio do apagão: os jornalistas elogiando a posição de estadista que ele teve ao convocar a rede nacional para comunicar o racionamento. FHC babando envaidecido com os elogios: diz que a população foi "incentivada" a colaborar. Os jornalistas devolvem mais loas e dizem que foi um momento de união cívica dos brasileiros.
É uma esquete que dá aquele sentimento de vergonha alheia, entende? Primeiro porque não houve coragem em comunicar o racionamento. Só faltava alguém supôr ser possível um presidente da república impôr uma medida como essa sem, no mínimo, comunicar à população. Segundo, que não houve incentivos. O que houve foram ameaças: os consumidores eram ameaçados com punições, respectivamente, sobretaxa e corte no fornecimento de energia. Não foi, portanto, união cívica espontânea. Foi medo.
Mas o que se vê, com o passar dos anos, é que a adulação pretende ter poderes mágicos de apagar a história, a memória e a verdade. Até nos assuntos mais básicos: o fornecimento de energia elétrica.
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