segunda-feira, 29 de julho de 2013

O simulacro do aplauso e da vaia

Sobre a afirmação de que haveria um desgaste, por parte do governo brasileiro, com o Mercado, devido a questões fiscais, escrevi o seguinte:

Acho importante haver o cuidado para não confundir o simulacro com o conteúdo. O desgaste com o Mercado não tem a ver com falta de clareza das ações de governo. Muitos empresários foram os porta vozes desse desgaste, dando prova de justificativas preocupadas, antes de tudo, com a manutenção do privilégio. Essas lideranças empresariais (engraçado pensar que no Brasil temos aquele tipo de liderança empresarial que não produz um saquinho de pipoca, vive do rendimento de ações e, ainda assim oferece consultoria para formar novas lideranças e ambiciona influir sobre a opinião pública) foram os porta vozes, através de entrevistas, editoriais, artigos, análises para imprensa escrita e televisionada sobre a frente de batalha que Dilma abriu no caso dos novos contratos de energia elétrica. Não há meio termo neste caso: a razão defendida por Dilma, de fato, foi justa, ou seja, tratava-se de retirar do consumo o ônus da amortização que já havia caducado. Os empresários e acionistas queriam a manutenção de um privilégio.

De forma absolutamente comprometida com este privilégio, a imprensa nacional fez valer somente este lado da história: tratou de dar publicidade a essa versão. Repetiu a ladainha sobre desrespeito aos contratos, sobre um "duro golpe" na confiança dos investidores, na quebra de expectativas, enfim. Na prática, esse discurso estava na linha de frente dessa batalha: estavam defendendo não só a manutenção de um ônus já quitado, mas sua outra face: o lucro abusivo das empresas, o rendimento elevado dos acionistas. Tudo isso em nome do simulacro da "confiança do Mercado". Os governadores do PSDB tiveram papel totalmente contrário ao interesse público: mostraram uma solidariedade canina aos empresários, mesmo diante da injustiça da exigência deles.

Muito tem-se questionado o isolamento do governo, a centralização de Dilma. Mas nesse caso o isolamento não foi um ato de vontade. Mesmo diante da campanha agressiva que o governo sofreu por comprar esta briga, quem se aliou a Dilma, quem colaborou para esclarecer a população sobre aquilo lhe era de direito e o Mercado não queria permitir que se realizasse? A tal "opinião pública midiática" até inventou um apagão, como todos nos lembramos.

Mas a opinião pública verdadeira também não é assim tão consistente quanto gostaríamos. Fez o papel de platéia de show de calouros. Aplaudiu o governo somente quando a batalha sobre a questão da tarifa da energia elétrica já havia sido vencida, às custas de uma campanha feroz contra Dilma. Mas no mês seguinte essa mesma opinião pública estava caindo na vaia do show promovido pelo preço do tomate. Critique-se a mídia, pois há muito o que se criticar. Mas há que se reconhecer que a opinião pública não é algo consistente. A parcela da opinião que, de uma hora para outra, passa a avaliar como regular ou péssimo o governo que até ontem avaliavam como ótimo, só pode ser considerada uma opinião precária e mal formada. É o simulacro do aplauso e da vaia.

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