sábado, 22 de junho de 2013

Depois da fala: primeiras impressões


Que o governo Dilma não espere de Globo e afins a mesma disposição "cívica" para dar consequências verdadeiras às respostas que a sociedade espera. 

Pelo contrário: vai ser preciso muita competência para virar o jogo. A resposta de ontem foi um bom sinal. 

Mas, por exemplo, a chamada que Dilma fez aos três poderes, e aos governadores e prefeitos: isso exige uma força política que mesmo em início de mandato muitos governos não possuem. E agora não adianta fingir que os setores interessados em prejudicar unicamente o governo federal, não conseguiram o que queriam. Quem acreditar no espírito cívico da Globo, talvez ainda não conheça a história de Poliana.

Então, voltando ao ponto: depois de tudo, quais dos sujeitos políticos convocados a participar deste esforço em responder aos anseios legítimos estarão dispostos verdadeiramente a colaborar? 

Os movimentos e partidos de esquerda que estiveram no início das manifestações foram pegos de surpresa com os rumos das manifestações. Tentaram colocar suas pautas à frente de tudo, mas já foram relegados pela imprensa nacional. São dispersos. Alguns preocupam-se com a reação conservadora. Alguns querem ganhar eleitoralmente. Alguns fazem o jogo do quanto pior melhor.

O PMDB ninguém sabe, ninguém viu. A resposta do prefeito Eduardo Paes
às manifestações no Rio foi das mais irresponsáveis que surgiram nestes dias: enquanto Alckmin disse que iria baixar a tarifa às custas do Tesouro de São Paulo e Haddad disse o mesmo, mas acrescentando a necessidade de discutir amplamente a questão do transporte público, Eduardo Paes disse que iria pressionar e repassar a conta para o governo federal.

O PSDB aposta que está lucrando. Fernando Henrique é bem quisto pela imprensa nacional e já é chamado a falar com todos os veículos de comunicação. Nem tão querido, mas ainda assim influente, é o José Serra: será o entrevistado de segunda feira do Roda Viva. Ou seja: o PSDB, que não tem protagonismo nenhum sobre a mobilização que veio das ruas, está sendo convidado a oferecer a interpretação legítima sobre o que está acontecendo.

Talvez os movimentos sociais sejam os únicos que tem disposição verdadeira a aceitar o desafio proposto pelo pós-manifestações.

Os setores desmobilizados que foram às ruas são uma incógnita. Mas parte deles já estaria muito satisfeito em apenas ver o PT fora do governo federal. E nisso, a transmissão televisiva foi bem sucedida: na dispersão de pautas, ressaltou os que gritavam contra os partidos, contra a corrupção, contra Dilma. Valeria uma reflexão: quem, no mundo, sairia às ruas para defender a bandeira da corrupção? Gritar contra a corrupção genericamente é vazio. Até Paulo Maluf gritaria.

O fato de que houve manifestações fascistas nas ruas tenderá a ser ignorado como questão menor, mas é altamente preocupante para uma sociedade que se quer democrática.

O PT tem o problema maior nas suas mãos: por ser o partido que governa o país terá de dar conta de fazer uma ação concertada. Deve não só apoiar, mas também dialogar mais com a presidenta e com a sociedade. Se titubearem agora, o resultado será nenhum: os atores políticos simplesmente cruzarão os braços até as próximas eleições, deixando o governo enfraquecido. Precisam, entre várias questões, prestar atenção à seguinte: os problemas da coalizão. De nada adianta as falas de figuras como o deputado Vacarezza de que os partidos da coalizão são diferentes mas não divergentes. É um erro achar, por exemplo, que não há divergência com a bancada evangélica, em especial com o PSC. As manifestações também deram um sinal sobre isso: a maioria da sociedade repudia a omissão em relação a posições políticas como a do pastor Marco Feliciano. 

E as questões não param por aí. O silêncio em torno de várias pautas, se não for revertido, poderá, além de tudo, causar um enfraquecimento das pautas onde houve disposição de agir: pobreza, desigualdade de renda, desigualdade racial, a questão do acesso ao ensino superior. 

Enfim, é o que temos por enquanto.

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