Agora que a Caixa de Pandora está aberta, cabem algumas questões e diferenças que pesam na balança da Reforma Política:
1) As vozes da oposição (seja a dos políticos ou os "especialistas" que os representam: tratam de desqualificar a iniciativa da Reforma Política): Gostariam que o Executivo Federal tivesse caído na armadilha de aceitar essa crise como uma crise exclusiva do governo. Seria um erro: a crise não é uma crise localizada a um projeto de governo: não é crise do bolsa família, não é crise do PAC, não é uma crise que se isole num setor de governo. É crise do sistema político. O que essa crise impacta no ritmo da redução da desigualdade, na corrupção, nos investimentos em infraestrutura, na educação, na saúde é importante, mas como está dito: já é o impacto. Os problemas localizados são consequência e não causa da crise. A crise do sistema político é a matriz. Por isso, as tais vozes da oposição, tendem a desqualificar a iniciativa da Reforma: visavam o emparedamento de um governo e não a busca de soluções reformadoras e republicanas.
2) As vozes do governo federal: decidiram avançar sobre o problema central que é uma crise da República. Com o esgarçamento político da aliança governista, porém, avançam às cegas sem uma dimensão exata da força política com que conta para dar início à reforma. Busca forças junto à sociedade civil organizada para capitalizar a iniciativa (a mudança radical da agenda de Dilma Rousseff na última semana de Junho é prova disso). Diferente da oposição, não contam com uma ressonância de sua posição na imprensa nacional.
3) A imprensa nacional: faz eco às vozes da oposição com a afirmação de que a Reforma Política foi a forma que o governo Dilma encontrou para fugir do problema e "jogá-lo para o Congresso". Os efeitos dessa ressonância são imprevistos. Para uma parte da população o argumento parecerá justo. Para outra parte, haverá a consideração, no mínimo, sobre a necessidade de iniciar uma discussão sobre a Reforma Política. Mas por parte da imprensa, cada passo de Dilma será noticiado como tentativa de fugir da crise. A imprensa quer manchetes: um exemplo disso foi a abordagem dos jornalistas na coletiva de imprensa com as diversas representações da sociedade civil que Dilma recebeu ao longo da semana: fizeram longas explanações sobre suas demandas e sobre a conversa com a presidente, enquanto as perguntas dos jornalistas era uma só: "ela estava despreparada para o encontro?". O Movimento Passe Livre (primeiro movimento a ser recebido), num gesto arrogante, caiu no erro de dar a manchete que os jornais queriam: disseram que Dilma estava despreparada para a tarifa zero. Nada mais do que eles disseram mereceu atenção, apenas a manchete "MPL diz que Dilma é despreparada". As pesquisas sobre a avaliação do governo passarão a servir, mais do que antes, como confirmação de que a crise é do governo Dilma.
4) As vozes dos Movimentos Sociais e da Sociedade Civil organizada: poderão ganhar consistência após esse movimento inicial que colocou a Reforma Política na pauta da sociedade brasileira. As primeiras reações foram diversas. Da parte dos sindicatos e centrais, alguns já defendem a Reforma Política, ao mesmo tempo que continuam com suas demandas específicas. Outros, menosprezaram a Reforma e querem ver a discussão imediata de suas demandas. Estes últimos colocam uma perspectiva economicista meramente (ganhos para os trabalhadores) e interessada na manutenção do atual jogo político (já que as centrais expressam ligações diversas com os partidos e, não necessariamente, à esquerda ou alinhadas ao petismo). Os movimentos da juventude, por paradoxal que pareça, tiveram reação muito mais madura do que certos líderes sindicais. O movimento LGBT tem motivos para considerar tardio esse diálogo direto com a presidenta (mesmo sabendo que o centro dos problemas de suas pautas encontra-se no Legislativo), mas sinalizaram positivamente ao encontro com Dilma.
5) Os setores que não tem tradição de mobilização popular, mas foram às ruas: não há conhecimento suficiente ainda. Há tentativas de categorizá-lo. Afirmar que é a classe média antipetista não é falso, mas não é toda a verdade. Há uma juventude despolitizada que pode ter participado pelos mais variados motivos: canalizaram no grito das ruas seu desencanto; foram atraídos pelo apelo acrítico à manifestação-espetáculo; aderiram às posições de direita apartidária (e muitas vezes fascistóide) que defenderam a hostilização de bandeiras e um apelo irracional a um sentimento de união nacional que elimina diferenças de classe, desigualdades sociais e a necessidade de democracia representativa. Essas diversas adesões deram-se paralelamente. E possivelmente há ainda outras mais. Soma-se aqui também setores mais tradicionais cujas posições não vinham sendo suficientes para gerar mobilizações massivas: Clube Militar, a antiga defesa à lá Tradição, Família e Propriedade. Até monarquistas parecem ter sentido um sopro de vitalidade. Os setores evangélicos não se confundem com a perspectiva TFP, mas sua mobilização tende a pender mais ao apelo de uma moral conservadora do que ao pertencimento de classe ou situação econômica (já que o discurso religioso se oferece como englobante destes dois últimos). Em suma, são setores que podem balançar para lados diversos, mas com uma pendência maior ao conservadorismo (o que prejudicaria uma avaliação da real dimensão de uma Reforma Política frente a esse contexto).
Balança estilizada do ceramista Luiz Olinto |
6) Os partidos fisiológicos. Há que se fazer uma análise mais qualificada, mas é