quarta-feira, 29 de maio de 2013

Depoimento de Lúcia Murat à Comissão da Verdade do Rio

      Li, na manhã de hoje, o depoimento de Lúcia Murat à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, prestado ontem, transcrito e publicado pela redação de jornalismo do site A Tarde. Acredito que, seja lá qual for o resultado possível que estas comissões venham a obter,  há algo que já está ao alcance de todos que é nos apropriarmos destes fragmentos que compõem o quadro dos anos de regime autoritário. 
      Esse tema exige o aprofundamento e a densidade expostos no depoimento de Lúcia. Recentemente, a imprensa nacional passou a noticiar o primeiro ano de trabalho dessas comissões e, sobretudo, da Comissão Nacional, com um certo tom de cansaço, como se já fosse possível dar o assunto por encerrado. Demonstrar cansaço com este assunto é o mesmo que demonstrar cansaço com a democracia. É o não aprofundamento e o tratamento superficial que permite vozes que negam a existência da tortura como política estatal, que reacendem os argumentos de que a resistência ao regime não passava de um grupo de terroristas e de que a própria presidenta da república não teria autoridade para ter instaurado a CNV, é o desconhecimento que permite que vozes assim tentem se proliferar.
      Segue o depoimento.

   
"A minha primeira prisão foi no Congresso estudantil em Ibiúna em outubro de 1968. Eu era vice-presidente do diretório estudantil da faculdade de economia e estava no congresso representando a minha faculdade. Fiquei cerca de uma semana na prisão e não fui torturada. Antes do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968, os estudantes de classe média não eram torturados, mas o mesmo não acontecia com os operários. Dois anos mais tarde encontrei e militei com Jose Barreto, assassinado junto com Carlos Lamarca, e ele me contou das torturas que sofreu em 1968, quando foi preso por ter estado no comando da Greve de Osasco.
      Por ter sido presa no Congresso de Ibiúna, eu entrei na clandestinidade lodo depois do Ato Institucional numero 5, pois sabíamos que com o fim do habeas corpus e dos direitos que ainda existiam os militares iriam me perseguir em algum momento.
      E, efetivamente, alguns meses mais tarde quando da chamada Operação Rockefeller, mais de 10 mil pessoas foram presas numa tentativa de preservar o país de qualquer manifestação contra a chegada de Nelson Rockefeller , então governador de Nova York.  Nessa ocasião, a casa dos meus pais foi invadida por militares armados. E, meu pai, Dr Miguel Vasconcellos, então diretor do Hospital Pedro Ernesto no Rio de Janeiro, foi preso e levado para um quartel onde o interrogaram sobre a minha localização, a qual ele desconhecia. Com ele, foi levada minha irmã Regina Murat Vasconcellos. Eles foram soltos, depois de ameaçados.
      A minha segunda prisão se dá então em 31 de março de 1971, depois de dois anos e meio de clandestinidade.
      A tortura era uma prática da ditadura e nós sabíamos disso pelo relato dos que tinham sido presos antes. Mas nenhuma descrição seria comparável ao que eu vim a enfrentar. Não porque tenha sido mais torturada do que os outros. Mas porque o horror é indescritível.
      Sabendo dessa impossibilidade, vou tentar descrevê-lo.
     

Vestido de saia

Republico aqui uma reportagem de Marcelo Pellegrini, de Carta Capital. Ele relata como tentou levar com naturalidade um dia vestindo saia. Naturalidade dele, mas reações de incômodo e estranhamento, ainda, da parte dos outros.


Quinta-feira, 16 de maio. Um dia de trabalho como outro qualquer, a não ser pelo fato de eu ter decidido ir trabalhar de saia. Tomei a decisão em apoio ao estudante de moda da USP Vitor Pereira, que sofreu preconceitos nas redes sociais devido à sua forma de se vestir.

Cheguei ao ponto de ônibus às 9h30 e já tinha superado o desconforto inicial da saia longa trançando nas pernas. Da cintura para cima, vestia uma camisa social listrada branca e preta; da cintura para baixo uma saia azul clara meio hippie, que peguei emprestado de minha namorada e alcança meus tornozelos. O ponto é o mesmo de todos os dias, o ônibus também, assim como o trajeto. As reações, contudo, foram desde moradores passeando com cachorros me olhando de soslaio, até motoqueiros entortando o pescoço para confirmar se estavam enxergando bem. Para a maioria, parecia não fazer sentido um homem barbudo de camisa social e saia azul no ponto de ônibus.

De segunda a sexta, vou de ônibus ao trabalho. Por conta disso, conheço e cumprimento pelo menos uns cinco motoristas diferentes, todos da mesma linha. Hoje, não foi diferente. Enquanto subia no ônibus soltei um 'bom dia' habitual ao motorista. Ele titubeou em responder. No fim, meio que obrigado, soltou um resmungo incompreensível.

Cida Moreira, no Cabaret e além.

      O palco Cabaret, da Virada Cultural paulistana teve a honra de receber a Dama Indigna: Cida Moreira. Interpretando Caetano Veloso, Chico Buarque, Paulo Vanzolini e Amy Winehouse, Cida impressiona pela voz e pelo tom dramático precisos. 
      O gigantismo da Virada Cultural gera alguns desequilíbrios como o seguinte: palcos muito bem estruturados para alguns artistas e a negligência de não conseguirem um piano para a apresentação de Cida Moreira, que sempre se apresenta tocando piano, mas teve de se virar com um teclado.
      Enquanto montavam o palco para Cida, estive esperando num ponto de táxi logo em frente. Ali conversei com uma mulher que acompanha Cida pelos shows desde os anos 1970. Não é muito ligada em internet (que foi o canal que me levou aos trabalhos de Cida) e por isso a apresentação daquela tarde parecia ser uma ocasião rara de ouvir o canto da artista. Não reencontrei a mulher ao final do show. Mas imagino que, como eu, tenha saído dali satisfeita com o que ouviu.







domingo, 19 de maio de 2013

O escroto-fofo


       Uma noite de sábado em São Paulo, caminho pela cidade repleta de shows. É mais uma edição de Virada Cultural, que todos já conhecem, elogiam e criticam, mas tem, sem dúvida, como uma de suas grandes qualidades criar a ocasião para que as pessoas passem pelas ruas pelas quais passam todos os dias, mas sem a correria afoita do cotidiano paulistano. Cria condição para que essas pessoas deixem seu devir de baratas encurraladas para passearem, sem mais. Por isso, algumas partes do trânsito até restringem a passagem de veículos: para que os pedestres possam passear livremente.
       Estou eu no meio dessa multidão e eis que me deparo com uma exceção dessa noite de boa convivência: um motorista que, com seu pequeno Mercedes-Benz, desrespeita a sinalização, ultrapassa o sinal fechado e passa por cima da faixa de pedestres (cheia de pedestres, vejam só que coincidência!). Quase me atropela, quase nos atropela. Reajo com espanto. E o tal motorista, bem consciente da merda que acabou de fazer, olha pela da janela de seu carro, faz uma expressão angelical com direito a biquinho e pede desculpas com vozinha mansa. Eu diria que este é o melhor exemplo do escroto-fofo que parece ser um tipo específico desta nossa época. Ou seja, uma figura que está tornando-se típica.
       Explico?
       Escrota é aquela pessoa que não costuma respeitar nada nem ninguém e que costuma achar-se plena de razão em seu desrespeito. Acontece que, até bem pouco tempo, a figura que poderia representar o típico escroto era o bad boy, o sujeito mal encarado, que procura imprimir em seu semblante os traços de sua conduta. Seria assim um escroto franco, que não se esconde, não finge ser outra coisa, que não teme mostrar o que ele é. Não que esta figura esteja desaparecendo, mas a cada dia ela divide mais a cena da escrotidão com este outro tipo que tem ganhado mais evidência: o escroto-fofo.
     

terça-feira, 14 de maio de 2013

Governo Dilma: pagando pela "segurança máxima" e recebendo "segurança mínima"

 Num dia em que o Congresso Nacional posterga a votação da MP dos Portos, em que, mais uma vez, deputados da chamada base aliada assumem posições mais deletérias que os próprios oposicionistas, e em que, reiterando a inconsistência do discurso político, alguns congressistas só fazem bravata em nome da "altivez desta casa", esta recente entrevista de Wanderley Guilherme dos Santos é  bem vinda. 


"Acredito que a segurança máxima do Planalto é bem menor do que ele pensa; é bem inferior àquela por que a Dilma está pagando”


"Uma coalizão menor, administrada de modo mais firme, pode ser tão eficaz quanto a atual, a custo político mais baixo"

sábado, 11 de maio de 2013

Conversa com Eduardo Coutinho

Uma conversa com Eduardo Coutinho, esse diretor de filmes que merecem ser vistos. Na conversa, ele fala de um projeto, "Um dia na vida", que acabou não sendo lançado nos cinemas, mas serve de gancho para falar sobre a programação da TV brasileira, a venda de horários das emissoras (que são concessões públicas) para as igrejas. E também fala de outros filmes já conhecidos do público. Até a época da entrevista, em 2012, seu último filme era o Canções. 
O buscador do blogger não localizou o vídeo para abrir aqui, então segue apenas o link colado:

http://www.youtube.com/watch?v=eLSMA4qZm34



"Olhos nos olhos" com Bárbara Eugenia

Bárbara Eugenia deu voz a uma nova versão de "Olhos nos olhos" para o Abismo Prateado de Karim Aïnouz. No filme, ela consegue um feito: causar uma certa surpresa mesmo sendo uma das canções mais conhecidas de Chico Buarque e mesmo que já saibamos, de partida, que se trata de uma obra inspirada na canção.



segunda-feira, 6 de maio de 2013

Vapor Barato

Vapor Barato, de Jards Macalé e Wally Salomão, é uma canção que se tornou indissociável da voz de sua principal intérprete: lembrar de uma é lembrar da outra. Gal Costa conseguiu dar vida e reinventar esta canção de modo marcante em pelo menos três momentos: na gravação ao vivo que deu origem ao disco Fa-Tal de 1971; ao lado de Zeca Baleiro, quando a juntou com Flor da Pele; e agora, em seu show Recanto, onde sua voz se mistura brilhantemente à guitarra de Pedro Baby. Três acontecimentos: