sábado, 27 de abril de 2013

“Sobre sete ondas verdes espumantes”


      “Sobre sete ondas verdes espumantes” apresenta-se como um fime através da obra de Caio Fernando Abreu. Eu assisti a uma exibição do filme, em São Paulo, que encerrou a programação do festival de documentários É Tudo Verdade. Os diretores Bruno Polidoro e Cacá Nazário nos mostram imagens de diversas cidades, às vezes filmando as cidades mesmas, outras com o próprio Caio Fernando povoando-as, outras ainda como pano de fundo daqueles que dão seu testemunho sobre o escritor. Embora as sete ondas remetam a diferentes aspectos (solidão, espanto, amor, melancolia, transbordamento, irremediável e para além dos muros), a solidão aparece impressa em grande parte dessas imagens.
      Talvez para mostrar um escritor brasileiro universal, cosmopolita, os diretores optaram por filmar diversos países onde Caio passou, viveu e deixou amigos. Estes amigos falam um pouco sobre Caio e leem trechos de escritos marcantes deixados por ele. Embora faça justiça à vida do escritor, este me pareceu um ponto de desequilíbrio do filme: alguns dos amigos estrangeiros apenas leem burocraticamente um texto. Aliás, o teaser de divulgação mostra apenas estes amigos, deixando de apresentar os muitos amigos brasileiros que participam da história. E é justamente na participação desses brasileiros que o filme cresce. A atriz Grace Gianoukas escolheu um texto em feitio de oração. Um texto que, além de lindo, toca num lado pessoal de sua relação com Caio: antes de ser a responsável por trazer novos ares ao humor brasileiro, Grace era uma garçonete, que ralava para conciliar o emprego com suas performances teatrais. Segundo conta, Caio foi o amigo que deu uma força para que ela viesse a São Paulo.
      O trecho escolhido por Adriana Calcanhoto, além de revelar o carinho que existia entre os dois, expõe outro fato: é como se as cartas do amigo lhe sugerissem um mosaico, desse mosaico ela fez recortes, uma nova colagem, acrescentou novos ingredientes, e disso resultou a canção “Esquadros”. De maneira delicada, Adriana vai fazendo uma leitura que permite ao espectador do filme descobrir a relação entre as cartas e a canção. A participação de Maria Adelaide Amaral também é permeada pela amizade, falando, assim, da figura viva por trás das cartas.
      Quem não conhece um pouco ou um muito de Caio Fernando Abreu, possivelmente achará o filme um tanto ou quanto perdido. De qualquer forma, é um filme que rememora um homem que parecia estar sempre bucando a vida, mas estava constantemente às voltas com o sofrimento.





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